quarta-feira, julho 01, 2009

Essência


Enquanto o mundo se desespera com os que ocupam o poder de cada nação eu me pergunto por que. Será que é tão difícil ver o quanto isso é doentio? O quanto a disputa por um poder rege todo um sistema de conflitos, guerras, suicídios, homicídios, depressão… Enquanto o mundo se preocupa em obter, consumir, possuir, disputar… “Tenha moral, tenha ética, comporte-se. Não se mova, todo cuidado é pouco para que tudo se perca”… Eu me pergunto por que. Mentes enlouquecidas por liderança, mentes enlouquecidas pelo topo da pirâmide. Mentes enlouquecidas.

O mundo está perdendo sua essência. Essa corrida contra o tempo nos remete ao contrário, nos faz perder tempo demais. Nos deixa cegos. Nos faz esfalerar nossa própria essência. Nossa única essência. Singular. Há tantas coisas a nossa volta que passam despercebidas. Já parou para sentir o aroma que àquela árvore em frente à sua casa espalha? Àquela flor que brota no meio de tanto concreto preenchendo todo o cenário cinza. Sujo. Mas ela está ali, mostrando que há vida. Que há cor. Que há pureza.

O cheiro… Cada coisa, cada lembrança, cada toque. Toque com a alma. Essência! Morrer de rir, andar descalço no barro, correr na chuva, deitar na grama, esteja ela molhada ou não. Dançar. Se libertar. Ousar de cada limite do corpo. Rir. Ver a graça das coisas. As coisas têm graça, sabia? Lembra-se disso?

Ouvir o que àquela música quer transmitir, o que ela pode te transmitir. Sentir o som, cada nota, cada instrumento. Deixar-se envolver. Balançar-se junto ao ritmo com os olhos fechados, deixar entrar no sangue, arrepiar-se. Senti-la viva. Viva em si. Um momento íntimo. Você e a música.

Subir o pico mais alto só para contemplar as estrelas. Ou fazer isso da sua varanda mesmo. Da sua janela. O importante é deixar-se iluminar por aquele brilho, tomar banho de lua! De luz. Mas se possível, suba o pico mais alto. Escute o silêncio. O som do silêncio. E tente pensar em nada pelo menos por alguns segundos. Paz.

Desprender-se. Fazer o que tiver vontade, na hora que der vontade. Mas lembre-se sempre da essência. Porque dessa maneira não se arrependerá.

E, por fim, amar sem medo.

quarta-feira, março 25, 2009

Palavras & desespero


É na palavra que encontro o meu desespero. Não o desespero no sentido literal, pejorativo, afinal, desespero nem sempre é tão ruim assim. As palavras me envolvem de tal maneira que desbravam meus segredos mais íntimos e me fazem quase que como uma obrigação vomitar todo o sulco do desespero dos meus sentidos. E cada vez que eu transformo isso numa catarse escancarada, escancarada somente a mim, um turbilhão de pensamentos vêm à tona. Somente a mim por, na verdade, não gostar da voz alta, tomando essas palavras, junto ao desespero, algo parecido quando Marisa Monte define o seu (ou meu) “infinito particular”.
Observo. Nunca fui de falar muito, prefiro ser envolvida pelas palavras. Gosto de ser devorada por elas, ultrapassando qualquer entendimento. O que seria de mim se não existisse essa semiótica? O que levou ao primitivo inventar códigos que se transformaram em letras que se transformaram em palavras que se transformaram em frases, que gerou a comunicação através de signos tão bem construídos, cada letra em sua entonação, cada frase uma interpretação, até a persuasão!
Palavras e desespero. Ouço cada uma delas da mesma maneira que ouço cada instrumento fazendo parte de uma música, ou uma música fazendo parte de cada instrumento. Absorvo cada uma bem empregada e me abstenho das que são mal colocadas. A palavra tem o poder de mudar todo o sentido, do simples ao complexo e vice-versa. Corre nos pensamentos em desespero tanto quanto corre no sangue o soar lírico de uma melodia construída detalhadamente para envolver...

quarta-feira, março 11, 2009

Argh!


Nesses últimos dias eu venho tentando me testar. Se o mal humor contagia mesmo, eu mesma resolvi provar. Tanto contagia, como faz muito mal. Até o brilho no olhar muda. Se torna seco, áspero. Acho que posso chamar isso de auto-análise inversa, levando em conta que quase nunca estou de mal humor.

Faz três dias que digo poucas palavras, uma vez ou outra um sorriso entreaberto para não parecer que sou mal educada. Respostas frias, curtas. Neste terceiro dia, já comecei a sentir de fato os sintomas. Uma cólera toma o ambiente e a vontade é de jogar uma bomba onde quer que tenha pessoas alegres. Pessoas. Algumas tonturas, sensação de indigestão, a boca com um gosto amargo. Até que eu percebi que isso não é pra mim. Me livrei, voltei ao meu estado sereno.

E pensar que existem pessoas que vivem constantemente assim...

segunda-feira, março 09, 2009


A loucura assusta. Assusta a quem prefere se adaptar a mesmice, aos pobres de espírito que se julgam normais. Àqueles cujo aprendizado de vida é manter-se sólido, lúcido, intacto. Àqueles que o que lhes faltam é prazer, euforia, emoção. Aos que se localizam na pirâmide, nas extremidades do limite. Que no fundo querem se libertar com anseio de correr sem destino e gritar para o infinito. No entanto, é só desejo. Porque o que lhes falta é coragem.

Escrevi isso voltando de Resende, num domingo, quando uma mulher que aparentava uns 40 e tantos, deficiente mental, entrou no ônibus segurando sua boneca de plástico com uma senhora que aparentava ser sua mãe. Ela chegava perto e olhava nos olhos e berrava com pessoas que nunca havia visto na vida. As outras pessoas olhavam para trás assustadas, mas o que seus olhares transmitiam, na verdade, era a indignação de tal comportamento, posto que, para a maioria, é um comportamento anormal. Quem sabe, realmente, se o seu grito não era uma forma de dizer: "libertem-se desta nostalgia!".